Saturday, June 2, 2007

A vida de músico na estrada

Ter pela frente uma tour grande é sempre entusiasmante por quase todos os músicos, mas envolve muita auto disciplina, horas de espera e soundcheck, viagens extensas e bastante trabalho para preparar tudo. Já corri Portugal de uma ponta a outra diversas vezes e tenho pela frente mais umas 80 datas aproximadamente este ano - tudo espectáculos que se podem considerar de topo em Portugal... pelo nível dos músicos, quantidade de meios humanos e materiais empregues, a produção que engloba umas 32 pessoas, os inúmeros pavilhões e estádios nacionais onde iremos tocar, entre outros exemplos. Encaro sempre cada tour com total profissionalismo para poder ser eficiente noite após noite, ou seja... é natural que exista muita contenção quando se pretende festejar após cada concerto e o álcool ingerido passa a ser em demasia para se considerar saudável... afectando directamente o estado de espírito e nível de eficiência no dia seguinte... imaginem quem faz vida intensa na estrada durante 7 ou 8 dias seguidos... não há ninguém que aguente e que mantenha a saúde intacta. É preciso bom senso... sempre!
A energia e adrenalina que se sente quando se arranca numa tour ainda se mantém passados todos estes anos desde que comecei na música profissional. As viagens... os jantares.... as gargalhadas e a boa disposição generalizada entre colegas são muitas vezes os pontos altos da tour a par do momento em que subimos aquele palco e tocamos para milhares de pessoas todas as noites. Ao fim de uns quantos concertos em que se vai afinando o repertório e sentimos que o espectáculo passa a fluir bem... entramos em piloto automático e passamos a divertir-nos em cima do palco... absorvidos pela energia que o público nos transmite. É nestas alturas que sentimos que vai ser difícil bater esta sensação... este momento quase zen assemelha-se a um "estado de graça" - e que bem que sabe!
Mas tudo isto resume-se aquelas 2 horas mágicas e é ignorado todo o processo para preparar as mesmas... pelo menos o público em geral. Existe tanto trabalho que geralmente mede-se pelo sucesso que o artista ou banda têm... nada é ao acaso e o sucesso é construído com muito suor e horas investidas... a par de bastante capital nas mãos certas para promover o "produto", mas isso é outro assunto que poderemos expor um dia.
A escolha de músicos e colegas é primordial para podermos estar em perfeita harmonia quando se passa tantas horas por dia juntos que mais parecemos uma família - ter pessoas que desequilibram o todo é sempre uma nota negativa e geralmente acaba por comprometer a união da banda e posteriormente a eficácia da mesma em palco. Imaginem estarem em palco e terem uma pessoa ao vosso lado que vos irrita profundamente? Vai correr mal de certeza. Tocar bem e absorver rapidamente informação musical é importante, ter boa atitude é imprescindível para manter e fazer novas amizades (contactos futuros na música), a humildade e o respeito pelos outros deverá andar mão em mão e acima de tudo... ter uma boa imagem conta muito nos nossos dias, especialmente no mundo pop e em genros com pretensões mais comerciais. Encontrar músicos que reunam estas condições todas não é fácil como poderão assumir... e é por isso que são quase sempre os "mesmos" que fazem os melhores trabalhos. Existem lobbys com certeza mas quando se pretende encontrar alguém para determinado trabalho... afunila-se tudo para um punhado de gente que leva isto mais a sério que outros. As oportunidades não aparecem sempre mas quando aparecem deverão ser encaradas com seriedade e devemos dar 110% para agarrá-las. É assim que tenho seguido aquilo que poderei designar uma linha mestre por onde me guio na minha carreira. Já toco neste meio há quase 17 anos e já apanhei várias ondas e modas em relação à música ao vivo. Continuo felizmente a fazer aquilo que mais gosto e consigo viver da música porque sempre acreditei que o conseguia fazer... mas o sonho continua e pretendo sempre mais... só paro quando não conseguir tocar uma nota decente.
Portanto, o meu conselho resume-se a: não desistam nunca e trabalhem sempre muito... alguém irá reparar em vocês e o trabalho virá ao de cima. Existe um timing para cada pessoa... basta estar atento às oportunidades! Outra coisa... quando pensarem que já sabem tudo.... vão chegar ao concerto 1000 da vossa carreira e ficam com a sensação que têm tanta coisa para aprender ainda que parece que voltaram à estaca zero... não entrem em depressão... é normal... mantenham e cultivem a sabedoria - é algo que não tem limites.






Autor: José Carlos Matos

Actualmente é o Director Musical e Guitarrista do caso de sucesso em Portugal - Mickael Carreira
mais info em:
http://www.josecarlosmatos.com

Sunday, April 22, 2007

AS COISAS DE QUE ME QUEIXO

São varias as coisas de que me queixo após 15 anos de vida profissional na musica.
Uma delas passa por uma insistente e contagiante “arrogância intelectual” por parte de alguns músicos, sempre dispostos a ganhar muito e a trabalhar pouco. Caros colegas, a humildade fica sempre bem e é o único motor que nos permite não deixar de evoluir até ao fim das nossas vidas.
Também acontece muito e está de facto na moda a preguiça de ensaiar, o que revela excesso de auto confiança e uma atitude que menospreza em larga escala repertorio em questão, o que muitas vezes tem mau resultado. Mais uma vez caros colegas, não tenham vergonha de serem homens e não maquinas. O ser humano tem a necessidade natural de determinado tempo para assimilar e automatizar informação. E eu não sou suspeito em dizer isto porque faço muito trabalho de estúdio, tv e espectaculos em que os timings para montar repertorio muitas vezes vasto e denso, são muito curtos. Mas isso é o lado meramente pratico e profissional da questão. Eu estou a falar de fazer musica. De vez em quando convêm, não concordam?
Em contraste com tudo isto, as nossas sociedades continuam a dar todo o protagonismo aos “artistas” com caras bonitas que estão na moda porque aparecem imenso na tv, originando fenômenos do gênero, apresentadores que se armam em cantores, cantores que se armam em actores, actores que até então apenas têm curso de modelo, etc etc etc.
E um gajo com uma porrada de anos de estudo do seu instrumento e da musica no geral, a ter que fazer leitura à primeira vista e de preferência já a interpretar porque por vezes o tempo não dá para mais (esse tempo é gasto a tentar pôr os actores a cantar e devido às baldas por parte de uma qualquer apresentadora boazona e famosa que não consegue seguir o teleponto), o único mimo que ouve por parte da produção (de um programa de televisão, que é ao que me refiro como exemplo) toma forma na frase “as condições não são muitas, vê lá se te desenrascas.
E agora permitam-me alguns humildes conselhos, em nada pretensiosos, à malta mais nova. Ao pessoal do rock: Divirtam-se e continuem a fazer o que realmente gostam de fazer, mas não se esqueçam que a escola clássica (técnica e leitura) e o jazz (domínio da improvisação e o conhecimento integral do instrumento) são fundamentais para a vossa maturação musical, principalmente se pretendem ser profissionais neste ramo. Ao pessoal do jazz: Atenção malta, o estudo de II-V-I progression, rhythm changes e Coltrane changes é muito útil, necessário e fundamental, mas façam o favor de usar esse conhecimento de forma inovadora, estamos no século XXI, não nos anos 50 do século XX. Ao pessoal do clássico: Deixem-se de ser preconceituosos e façam por tocar de vez em quando sem uma partitura à frente, vão ver como se vão divertir.
Para terminar quero deixar aqui uma homenagem à malta da GDA, sem duvida a primeira instituição realmente focada em ajudar os músicos, qual SPA ou sindicato. Recomendo desde já a todos os colegas ainda não inscritos, que o façam o mais breve possível. Registem todo o repertório que tenham gravado em cd’s, vídeo clips, programas de tv, etc, e recebam o que vos é de direito.



Autor: Anónimo
Curriculo: Musico profissional desde 1992, tem participado em concertos, estudio e tv com inumeros artistas e bandas conceituadas no panorama musicalportugues. Faz frequentemente trabalho de orquestra para programas detelevisão. Embora tenha assumido uma carreira de freelance de há unsanos para cá, tocando variadissimos estilos, assumiu-se tambem como compositor ao lançar o seu primeiro album a solo em Outubro de 2005. É professor na JB Jazz em Lisboa e monitoriza frequentemente workshops e cursos de formação.

Sunday, April 15, 2007

Está nas vossas mãos

Por alturas de 1993/94, iniciou-se o projecto de originais em que trabalhei por mais tempo, mais concretamente até 2000/01. Apesar de já ter passado algum tempo desde esse período, ainda estão vivas na minha ideia todas as diligências e peripécias que atravessámos para a divulgação da banda, quer em concertos ao vivo quer no envio de maquetas e contactos directos com representantes de várias entidades ligadas à música.
Alguns anos depois, e com a minha literacia informática um pouco mais desenvolvida, vejo uma realidade claramente diferente para as bandas de originais que hoje em dia se queiram lançar e dar a conhecer ao público e a outras entidades ligadas à música (promotores de eventos, editoras, media, etc.).
Vejamos: com um orçamento relativamente baixo, conseguimos gravar uma maqueta de qualidade bastante razoável em 2000. Claro que para esse baixo orçamento ajudaram muito três factores: a relação excelente do nosso produtor com o dono do estúdio; o facto de sermos "cobaias" para a estreia do estúdio; e termos como método de trabalho a gravação do instrumental todo em simultâneo, o que reduziu substancialmente o tempo de ocupação do estúdio.
Porém, e o mais importante, o que fizemos com essa maqueta em seguida? Bem, mais uma vez graças a alguns bons contactos do nosso produtor, essa mesma maqueta chegou às mãos e foi ouvida por vários A&R e outros funcionários de diversas editoras e promotoras. Tendo conseguido o mais difícil (fazê-los ouvir essa maqueta), passámos à fase seguinte: levá-los a ver-nos ao vivo. Tivemos uma oportunidade excelente de o fazer, numa primeira parte a um concerto de uma banda de renome nacional. Lá estiveram alguns funcionários de editoras e aí os contactos se processaram. Nao importa agora explicitar os resultados desses contactos; o que mais importava era descrever todo o processo de contactos para uma banda obter uma possibilidade de contrato discográfico e/ou de promoção e agenciamento.

Actualmente, as bandas dispõem duma série de ferramentas promocionais que lhes permite fazer um sentido oposto nos contactos: serem as editoras a contactar as bandas que lhes possam interessar. Através duma estratégia bem delineada de apresentação dos trabalhos no MySpace, divulgaçao de press releases electrónicos para os media, lançamento de vídeos de concertos para o YouTube, criação de newsletters, ofertas especiais para visitantes da página web, blogues de divulgaçao da banda e com participaçao de fans e colaboradores, divulgação dos concertos e novidades da banda através de fóruns de música, etc., é possível oferecer um contacto regular com a banda, dando a conhecer ao público em geral e ao mundo da música o que estão a fazer em cada momento; e acreditem que isso é importante para quem decide contratar uma banda.
É um nunca acabar de opções que permitem a uma banda relativamente organizada conseguir chegar aos ouvidos de muito mais público e de muito mais pessoas intervenientes no negócio da música, com poucos meios. Até as gravações de maquetas, com a explosão de gravadores digitais e a panóplia de equipamento disponível a nível informático, permitem já uma qualidade bastante razoável nas mesmas. Longe vão os tempos da primeira maqueta que gravei, com uma cassette num gravador de quatro pistas.

Espero que este texto sirva de motivação para as muitas bandas que estão por aí e que têm qualidade: os ouvintes têm agora mais possibilidades para ouvir novos projectos e já o começam a fazer, destronando a supremacia das editoras como ditadoras do gosto musical.

Boa sorte para os vossos projectos musicais!

Autor:Luis Romero
Começou por tocar bateria ainda na década de 80, em diversos projectos de originais. A estreia ao vivo foi em 3 de Março de 1991, no dia em que completou 17 anos.
Pouco tempo depois, passou para o circuito de bares, ao mesmo tempo que estava em preparação um projecto de originais que teve sete anos de duração e que foi fundado em 1993. De seu nome Label Juice, este projecto é ainda hoje o que melhor retrata a sua evolução como baterista e compositor.
Após outra aventura nas covers, com uma duração de ano e meio, dedicou-se em exclusivo a jams experimentalistas com uma série de músicos. Entretanto, aproveitou para criar alguma base técnica e teórica com alguns professores em Portugal, que culminou com um ano de frequência na JB Jazz nas disciplinas de Bateria e Combo.Reside actualmente em Barcelona, onde para além de frequentar uma série de bares com música ao vivo e participa nas jam sessions, estuda no Taller de Músics.




Sunday, April 8, 2007

A procura dos porquês...

Como tudo começa? E porquê?
O meu caro amigo Rui Figueiredo pediu-me para escrever umas linhas sobre música ou relacionado com, como este blog está a começar achei por bem escrever sobre começos, ou seja, porque é que começamos a tocar,o que nos leva a fazer tal coisa? Porque é que passamos de ouvintes a executantes, e porque é que depois de saber tocar queremos mostrar aos outros?


Vamos pelo princípio: dizem os entendidos (pelo menos alguns) que todos temos ouvido absoluto entre os três e os quatro anos, alguns países aproveitam este espaço temporal para perceber qual é o instrumento preferencial da criança, colocam-nos numa sala cheia dos mais variados instrumentos e deixam os “putos” escolherem o que lhes dá mais prazer, ao fim de uns dias inevitavelmente a criança demonstra uma natural tendência para um deles. (poderia fazer aqui uma piada e dizer que os mais inteligentes escolhem a bateria...mas não vou ser desagradável).
Depois disto o que é que acontece? Existem dois caminhos, o mais comum pelo menos em Portugal é não ter aulas de música, o outro são os privilegiados que ou porque os pais têm dinheiro e vontade ou em muitos casos só vontade, conseguem assegurar que os filhos continuam a ter uma educação musical.
Também é verdade que muitos são os casos em que apesar da insistência para que o filho tenha aulas ele não tem o que é mais importante...vocação, vontade e prazer em tocar.
Na adolescência desenvolvemos aquilo a que os especialistas chamam “adorodeouvirmusicaeporquenaofazerumabanda” , amigos juntos numa garagem, uns instrumentos mal amanhados e toca a fazer barulho!
Acho que é por esta altura que na grande maioria dos casos acontece o “click”, alguns de nós são chamados por Apolo para fazer parte de uma das duas grandes famílias musicais, os que fazem e os que ouvem música. A única vantagem dos primeiros é que para alem de se deleitarem a ouvir também a entendem, o que as vezes pode ser desconfortável porque se preocupam demais em perceber o que se passa e passam ao lado da essência da música que é o prazer de a ouvir.
Este é o começo que eu quero perceber, quando formamos uma banda ou mesmo um projecto a solo, fazemo-lo porquê? Porque é que queremos compor, tocar para outros?
É pelo prazer de tocar, compor? Pelo dinheiro que possa vir a dar? Por vaidade? Por sentir que é uma forma de comunicar que se ajusta a nossa personalidade? É pelas miúdas(os)? Porquê?
Acho que quem tiver resolvida esta questão, esta bem lançado para ser mais feliz musicalmente, qualquer opção é boa, porque é a sua opção.
A grandeza dessa escolha é definida pela pequenez da recompensa, podemos até enriquecer as custas da música desde que não tenhamos comprometido o prazer, ou seja, existem muitos casos de sucesso de artistas que ganham milhares e não comprometem os seus ideais, aquilo que nos fez começar a tocar, se o “aquilo” for o prazer de tocar...acho que serão os mais felizes e no fundo uns privilegiados.
Por isso acho que é importante que definam à partida o porque de estar ligado a música, pode parecer uma pergunta um pouco idiota mas conheço muita boa gente que não tem esta questão bem resolvida, e isto é de uma importância nuclear no futuro do vosso projecto. Posso deixar aqui dois exemplos que para mim são dois extremos, o ideal seria encontrar um meio-termo.


Gosto muito de cantar e tocar mas se algum dia deixar de ganhar dinheiro com isto mais vale trabalhar numa bomba de gasolinaJack Johnson


Gosto demasiado da música para viver as custas delaMestre Carlos Paredes






Nuno Rocha

Organizador de eventos musicais ( ex. Vilar de Mouros 2007)

Sunday, April 1, 2007

A Máfia dos bares

Não é novidade nenhuma para ninguém que frequente assiduamente os (já de si poucos) bares de música ao vivo na zona da Grande Lisboa e arredores, que as bandas que nos são apresentadas day in and day out nas agendas dos bares são quase sempre as mesmas, ou então que são formadas por músicos das mesmas bandas, mas que "trocam entre si" (por exemplo, o baterista da banda "X", toca também na banda "Y", bem como "dá uma perninha" nas bandas "Z", "A", "G", etc...).

Tudo bem que os donos dos bares tenham medo de pôr novidades em termos de bandas, porque até há aí bandas de qualidade duvidosa, que apresentam uma maquete em que as falhas de som, de interpretação, ou mesmo de execução são nulas, e depois ao vivo deixam muito (ou tudo) a desejar. Mas daí a fecharem as portas às novidades com qualidade que lhes são apresentadas é uma linha ténue, e que acaba por prejudicar quem quer apresentar algo de novo e fresco aos públicos que se apresentam practicamente hipnotizados pela monotonia das bandas que desfilam nas casas de música ao vivo.

Bandas com músicos profissionais, com anos de estrada e de experiência, são simplesmente postas de parte, só porque não há nenhuma "carta de referência" que é apresentada juntamente com a maquete?

(Por "carta de referência" leia-se um dos músicos pertencer à banda "A", "B" ou "C" que já toca nesse bar há dez anos, sempre o mesmo repertório, tocado pela mesma ordem, as mesmas piadas contadas nas mesmas alturas, etc... etc...)

Veja-se um exemplo:

Apareceram recentemente três novas bandas no mercado de covers... as três bandas têm vocalistas femininas, duas dessas bandas têm elementos de outras bandas que já tocam nos bares há três ou quatro anos e tocam o repertório "easy listening" para uma menina cantar. A outra banda aparece com um repertório diferente, mais roqueiro (na verdadeira acepção da palavra, e não "roqueiro-FM-histérico", e os músicos têm todos experiência de cerca de dez anos (alguns mais) em projectos de bares, de originais, de estúdio, etc... mas não são conhecidos nos bares.
Curioso que ao fim de dois meses, as duas primeiras bandas (as tais que têm um ou mais elementos que já fazem parte de outras bandas já conhecidas) tenham já três ou quatro gigs marcados (nos bares do costume), e a terceira banda não consiga nem um único concerto.

Ora das duas uma: ou as duas primeiras bandas estão a tocar à borla, ou estamos perante o verdadeiro cenário de "máfia de bares", em que ninguém fora da famiglia tem sequer direito a respirar, quanto mais a tocar.

O público inclusivamente já começou a dar sinal de que está um bocadinho farto de ver sempre as mesmas caras nos palcos, mas não é por isso que os donos cedem à vontade do freguês.

Este cenário arrasta-se há pelo menos dez anos. Eu como cliente desses bares estou muito farto de ver as mesmas caras, as mesmas vozes, ou mesmo (como já vi) bandas com qualidade duvidosa, com uma "cara linda" à frente, sem presença, sem voz, mas que como tem um guitarrista que toca com outras bandas da famigerada famiglia, tem lugar garantido em diversos bares.

Revolta-me, como músico, e como cliente.



Autor: Anónimo
Curriculum: músico de sessão há cerca de dez anos, em vários projectos de originais, músico de covers há cinco anos, apaixonado por música desde a barriga da mãe.

Tuesday, March 27, 2007

Gravar um álbum...

Gravar um álbum. O sonho de todos os que têm uma “banda de garagem”! como chegar lá, a este objectivo que mais parece uma miragem.?? A resposta não é igual para todas as bandas, por isso não pretendo dar uma receita mas sim relatar um pouco da minha experiência. Depois de alguns anos a correr a traz duma cenoura que nunca se alcança, estou prestes a abraçar o sonho. Venho então, a convite do meu amigo Rui Figueiredo, falar um pouco deste percurso, dos dramas, das esperanças, as ilusões, etc.

Bem, para começar, da experiência que tenho, posso dizer que esqueçam algumas propostas que normalmente aparecem em forma de mail, divulgando empresas ligadas ao mercado musical, que pedem algum dinheiro em avanço para gravações e promoção etc.

Faço parte de uma banda que existe há 5 anos, mas vou cingir-me aos últimos 2 meses, altura em que mostramos ao produtor (músico sobejamente experiente) gravações anteriores, e gravações de ensaios com registo das novas musicas. Propusemos que produzisse o nosso disco.

Para quem está a começar e não sabe bem qual o papel do produtor, aqui fica: quer se queira quer não, numa banda, quando se grava sem ajuda do produtor, o mais frequente acontecer é que o guitarrista não presta atenção aos outros instrumentos, o baixista só ouve o baixo, o vocalista quer a voz muito mais alta que o resto, etc… e poucos são os que estão a ouvir a musica no seu global. E por mais que se tente, somos sempre tendenciosos em relação ao nosso instrumento. O produtor faz com que prevaleça o bom resultado global. E se for alguém experiente, vai com certeza dar dicas e técnicas de gravação e de mistura que doutra forma não saberíamos fazer.

Mas o produtor tem o seu preço…, para não falar nos estúdios e seus técnicos. Felizmente no nosso caso, um dos nossos membros possui algum material como uma boa mesa de mistura, computador com placa de som apropriada (n confundir com as que sem vendem em lojas de informática), microfones, software apropriado etc. O que nos facilitou a vida e reduziu os custos, pois a maior parte da captação foi feita sem a pressão do preço a aumentar com o tempo que se demora. Assim, no que toca a captação, apenas entramos em estúdio para gravar a bateria, uma vez que é o instrumento mais exigente em termos de captação. Enquanto vos escrevo, estamos de novo em estúdio para a equalização, mistura e masterização. Uma vez que o master esteja pronto, será utilizado na negociação para obtenção de um contracto de distribuição. Embora exista já uma editora que está a par das nossas actividades (Mas, na verdade nada está confirmado no que toca ao contrato).

Bem, mas esta nossa “brincadeira”, não sai barata! E quanto ao retorno, pode não ser nada expressivo. Mas, claro que acima de tudo se trata de uma paixão, e estamos a ficar cada vez mais apaixonados pelo resultado, por isso posso dizer que mesmo que ninguém mais goste do álbum, eu sinto-me feliz por estarmos a realiza-lo!

De qualquer forma há que pagar despesas e nós não somos ricos. Montamos então um projecto de patrocínios para apresentar a câmaras municipais, empresas e instituições; por outro lado temos “cravado” alguns amigos e familiares que sabem da importância disto nas nossas vidas, e temos também avançado com parcos dinheiros próprios. Ficamos também a contar com a compreensão do produtor e do engenheiro de som, pessoas estas que nos acompanham a algum tempo e acreditam em nós (de modo que estamos com a divida adiada).

Talvez não tenha abordado todos os pontos deste processo, mas aqui ficam alguns aspectos importantes da concretização deste sonho.



Bruno Lobo 28 anos Amante da guitarra eléctrica; 2º lugar no concurso legato (Porto); 1 tema instrumental publicado na revista Promusica; Começou a aprender guitarra aos 15 anos. Frequentou o conservatório de musica da madeira durante 1 ano, tendo sido autodidacta deste então. Integrou várias bandas de covers e originais, sendo actualmente membro da banda CAIM desde a sua formação, banda com a qual já fez abertura de várias outras como: “Xutos”, “GNR”, “Corvos”, “Entre Aspas”, etc e venceram o concurso Antena Madeira 3 Rock e integrando a a colectânea “Coca-Cola bandas de garagem” e participando também na banda sonora dos Morangos com Açucar.






Sunday, March 11, 2007

Apresentação do Blogue

Blogue de crónicas escritas por apaixonados da Música!